Esta é uma pergunta muito comum entre os cristãos. “Como devo evangelizar?”, “Como posso falar de Jesus para os meus amigos e familiares?” ou “Mas eu não tenho uma boa oratória, será que devo mesmo assim, falar?”. Questões como estas são, muitas vezes, um empecilho para muitos crentes em Cristo. Este estudo se propõe a ajudar aqueles que percebem esta dificuldade.
Contudo, devo antes ressaltar que só pode realmente falar de Cristo quem O conhece. Isto parece bastante óbvio. Ninguém pode falar com propriedade, de algo, ou de alguém sem conhecer o objeto a que se refere. Usando um exemplo dado por A. W. Tozer, um conhecido autor cristão do século passado: “Um homem pode morrer de fome tendo todo o conhecimento sobre pão, e um homem pode permanecer espiritualmente morto, embora conhecendo todos os fatos históricos do cristianismo”. Ainda que haja, como Paulo mesmo constatou, muitos falando de Jesus sem verdadeiramente conhecê-lo, como lemos em Filipenses 1:15 a 18: “Alguns, efetivamente, proclamam a Cristo por inveja e porfia; outros, porém, o fazem de boa vontade; estes, por amor, sabendo que estou incumbido da defesa do evangelho; aqueles, contudo, pregam a Cristo, por discórdia, sem sinceridade, julgando suscitar tribulação às minhas cadeias. Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei”. Todavia, é claro que este não é o ideal. Por isso é necessário que aquele que anuncia a Cristo, faça-o com conhecimento de causa.
Outra barreira ou, em alguns casos, pretexto criado por muitos crentes se encontra na afirmação: “Eu não tenho o dom de evangelizar”. Conquanto a Bíblia se refira à palavra “evangelistas” como um dom específico (Efésios 4:11), isso não quer dizer, em absoluto, que somente aqueles que tem este dom devem evangelizar. O próprio Senhor Jesus, ao dar o mandamento: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura”. (Marcos 16: 15), não especificou quais discípulos, dentre os que O ouviam, deveriam evangelizar. A ordem foi geral. Portanto, todo discípulo de Cristo está debaixo desta responsabilidade.
Mas, o que é evangelizar? A palavra “evangelho”, como definição geral, significa “boas novas”. De modo direto, evangelizar é anunciar a salvação dada em Cristo, gratuitamente, através de Sua morte e ressurreição. Na língua grega, o idioma no qual o Novo Testamento foi originalmente escrito, a pregação do evangelho era feita de várias formas e dependia muito da situação em que o pregador se encontrava. Algumas das palavras utilizadas para apresentação das “boas novas” eram “apologia”, “euagellizo”, “kerusso” e “martus”. Analisaremos suas características no decorrer deste estudo.
Este estudo tem um enfoque prático. Por isso, tracei 5 pontos que considero fundamentais na propagação do evangelho. Creio que eles podem auxiliarnos bastante no momento em que tivermos a oportunidade de falarmos de Cristo para as pessoas que estão à nossa volta. São eles:
1º Ore antes de falar
Como vimos, muitos de nós nos “defendemos” dizendo que não sabemos como falar, nem o momento certo para abrirmos as nossas bocas. Diante disso, é primordial que peçamos a direção do Senhor também neste aspecto.
Sabemos que nossas petições devem estar baseadas, acima de tudo, na vontade de Deus. E, neste caso, podemos ter certeza ao pedir a Ele que nos oriente no momento em falaremos de Cristo, pois esta é sem dúvida, a vontade dEle. O apóstolo Paulo, ao nos conclamar para orarmos pela humanidade, no capítulo 2 de sua primeira carta a Timóteo, é muito claro em mostrar qual é o desejo de Deus: “O qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade”. I Timóteo 2:4.
É óbvio, portanto, que Ele quer falemos do evangelho, com isso podemos ter convicção de que, ao orarmos pedindo a direção do Espírito Santo para podermos pregar a Palavra a alguém, elas serão atendidas. Esteja, com isso, pronto para orar a qualquer instante, pois o Espírito de Deus pode, a qualquer hora, colocar pessoas ao seu lado que precisem muito ouvir da verdade.
E, como devemos falar? Talvez esta tenha sido a mesma pergunta que os apóstolos de Cristo Lhe fizeram há quase 2000 anos. É provável que, por não serem homens possuidores de profundos conhecimentos teológicos, eles imaginavam que seus discursos não seriam suficientes para atingir ninguém. No entanto Jesus lhes esclarece que eles não deveriam se preocupar com isso, pois esta capacidade não viria deles: “Quando, pois, vos levarem e vos entregarem, não vos preocupeis com o que haveis de dizer, mas o que vos for concedido naquela hora, isso falai; porque não sois vós os que falais, mas o Espírito Santo”. Marcos 13:11.
É maravilhoso saber que nosso Deus cuida de todos os detalhes. Ele, inclusive, nos lembrará o que falaremos: “o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito”. João 14:26. A nós cabe apenas a disposição. Porém, não é necessário dizer que, só podemos nos lembrar daquilo que já conhecemos. Eu não posso querer me lembrar, no dia da prova, de algo que eu sequer tenha estudado. Por isso, para evangelizarmos é necessário que coloquemos em prática as recomendações do salmista, ao afirmar que é bem-aventurado o homem que: “tem o seu prazer na lei do Senhor, e na Sua lei medita de dia e de noite”. Salmo 1: 2.
Você quer falar de Cristo? Ore pedindo a direção Dele, e leia Sua Palavra para que, no momento em que tiver de falar, Ele o lembre.
2º Questione
Uma das palavras utilizadas na pregação do evangelho é a palavra grega “apologia”, que quer dizer: “defender, argumentar” (Atos 22:1). A Bíblia diz que nós não devemos discutir o evangelho a fim de tentarmos convencer alguém. No entanto, devemos usar da apologia, ao sermos confrontados ou questionados. Devemos apresentar, caso sejamos argüidos, as defesas de nossa fé, ou porque cremos no que cremos.
Um exemplo claro é o questionamento da justificação pelas obras. É muito comum o ser humano, em sua hipocrisia, querer se justificar diante de Deus mediante atos que ele pratica. Quem já não ouviu a famosa frase: “Eu não mato, não roubo, ajudo aos pobres, vou a igreja aos domingos, procuro fazer o bem, etc, etc, etc?”. A Palavra de Deus está repleta de argumentos que mostram que os atos do homem não podem lhe conceder a salvação, ou o favor de Deus. Não adianta sermos eventuais “cumpridores” da Lei divina, “pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos”. Tiago 2:10.
Acredito que uma das melhores maneiras de se pregar o evangelho é o questionamento. É poder levar as pessoas a refletirem sobre seus conceitos. Por esta razão, ao confrontarmos aqueles que se fundamentam em seus atos, com verdades com esta de Tiago 2:10, estaremos os levando a questionarem suas crenças. Alguns temas como: fim do mundo, morte, sofrimento, amor, quem foi Jesus, religiões, céu, etc. são sempre assuntos com os quais podemos iniciar uma conversa com o intuito de levarmos as pessoas ao evangelho. Não estou afirmando, com isso, que são nossas técnicas ou táticas que levarão alguém a crer, pois esta tarefa não é nossa, e sim do Espírito Santo. Porém, devemos sempre, procurar fazer o melhor.
É importante também que jamais “barganhemos” nossa fé. O relativismo (filosofia que nega que a verdade seja algo absoluto) jamais pode coadunar com o cristianismo. Devemos, portanto, anunciarmos o evangelho com convicção e como a única saída, e não apenas como mais uma, dentre as milhares de alternativas propostas pelo homem. Jesus foi enfático, claro, autoritário e exclusivo: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai se não por Mim”. João 14:6.
3º Fale!
Ninguém vai ficar sabendo que Jesus morreu e ressuscitou por nós se nós não dissermos! Muitos de nós temos nos utilizado da desculpa: “Eu prego com a minha vida”. É evidente que o testemunho de nossa fé em nosso viver diário é imprescindível. Nós vimos, no início do estudo, que os que falam com propriedade são aqueles que creem e, conseqüentemente, vivem. Todavia, a Palavra de Deus é explícita em afirmar que o evangelho deve ser anunciado!
As palavras “euagellizo” (anunciar as boas novas), em Atos 8:35 e 1 Cor 1:17 e “kerusso” (proclamar), em Marcos 16: 15, 1 Cor 1:16; mostram com clareza este conceito. O evangelho nunca dependeu da capacidade daqueles que o anunciaram. Há muitos testemunhos de pessoas crendo no evangelho através de textos bíblicos ditos ao vento, por pessoas que nem sequer conhecem a Jesus.
Nós, que cremos, devemos anunciar à humanidade, com nossas bocas e com clareza, que todos nascemos pecadores; e estamos separados de Deus; destinados ao inferno; e que a salvação deste estado só é possível através de Jesus Cristo, em Seu amor demonstrado por nós, de graça, através de Sua morte na cruz, e de Sua ressurreição ao terceiro dia. Afinal: “como crerão Naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?” Romanos 10:14. Pregar o evangelho é falar! Proclamar! Anunciar! A tempo e fora de tempo! “Mas, e se não quiserem ouvir?”. Jesus, ao ordenar aos discípulos que fossem às cidades vizinhas anunciando a salvação, deu-lhes um alerta: “Se alguém não vos receber, nem ouvir as vossas palavras, ao sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés”. Mateus 10:14.
Se o convencimento é tarefa do Espírito Santo, como verdadeiramente é, então não nos cabe medir os resultados de nossas pregações, mesmo porque a honra e glória deles não são nossas. Devemos porém, com amor, clamar pela misericórdia do Senhor para com todos: “disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade”. II Timóteo 2:25.
4º Contextualize
Em termos simples, contextualizar é “trazer para a nossa realidade”. A palavra “martus” (Atos 1:8), que significa “testemunhar o que se vê, ouve ou se sabe”, se aplica a isso. Ainda que a ação do Espírito Santo não dependa, em nada, de nós; pois se não proclamarmos, “as pedras” o farão; Deus escolheu o homem para levar o evangelho. E o contextualizar é um meio de proclamação. Devemos testemunhar a transformação de nossas vidas, dizendo o que Cristo fez por nós e em nós.
Devemos, também, apresentar a atualidade da Palavra de Deus. A Bíblia foi escrita há, pelo menos, 1950 anos (isso, desconsiderando o Velho Testamento), por este motivo é normal que, alguns termos nela encontrados, não façam parte de nossa realidade. Todavia isso não impede que apresentemos as verdades bíblicas no mundo em que vivemos, afinal ela é a Palavra de um Deus que é imutável.
Um pequeno exemplo de contextualização: Você não vai falar para alguém: “Olha cara, Nicodemos foi um dos principais dos fariseus e Jesus disse a ele: Necessário vos é nascer de novo”, sem explicar o que era ser “um dos principais dos fariseus”. Portanto, não só podemos, como devemos, utilizarmos exemplos e situações atuais para falarmos de Cristo. Isto é contextualizar.
5º Cite a Palavra
A Palavra de Deus deve ser sempre o meio central de nossas evangelizações. Ela mesma afirma esta verdade: “Logo a fé vem pelo ouvir, e o ouvir da Palavra de Deus”. Romanos 10:17. Por isso, mesmo que você não tenha nada para falar, cite a Palavra de Deus, pois ela sempre será muito mais do que tudo o que qualquer homem jamais poderia dizer: “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração”. Hebreus 4:12.
Como devo pregar o evangelho? Acredito que é essencial que todos nós cristãos procuremos nos aprimorar na pregação do evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Temos, sem dúvida, a responsabilidade de apresentarmos as boas novas de salvação com a maior clareza possível utilizando, se forem necessárias, técnicas e estratégias adequadas para cada situação ou pessoa. Se é nosso dever anunciar a Cristo e se este anunciar é da vontade dEle, então devemos cumprir esta tarefa fazendo sempre o melhor.
Porém, e acima de tudo isso, devemos ter em nossas mentes e corações que a ação é de Deus e não nossa. É o Espírito Santo que, em nós, meros vasos de barro quebradiços, Quem faz a obra, do início ao fim.
Marco Sales